Papa Francisco já com o Pálio e o Anel do Pescador. |
Na terça-feira, dia 19 de março, foi celebrada a Missa na qual foi entregue ao Papa Francisco o Pálio e o Anel do Pescador. A celebração, cheia de gestos simbólicos próprios do início de pontificado, aconteceu na Praça São Pedro às 9h de Roma (5h no horário de Brasília) e reuniu milhares de pessoas.
A Missa que marca o início do pontificado do Papa Francisco aconteceu no mesmo dia em que a Igreja solenidade de São José. Em sua homilia o Santo Padre falou deste santo destacando que ele é um guardião que age "com discrição, com humildade, no silêncio, mas com uma presença constante e uma fidelidade total, mesmo quando não consegue entender". Logo abaixo, segue o texto da homilia na íntegra.
Queridos irmãos e irmãs!
Agradeço ao Senhor
por poder celebrar esta Santa Missa de início do ministério petrino na
solenidade de São José, esposo da Virgem Maria e patrono da Igreja universal: é
uma coincidência densa de significado e é também o onomástico do meu venerado
Predecessor: acompanhamo-lo com a oração, cheia de estima e gratidão.
Saúdo, com afeto,
os Irmãos Cardeais e Bispos, os sacerdotes, os diáconos, os religiosos e as
religiosas e todos os fiéis leigos. Agradeço, pela sua presença, aos
Representantes das outras Igrejas e Comunidades eclesiais, bem como aos
representantes da comunidade judaica e de outras comunidades religiosas. Dirijo
a minha cordial saudação aos Chefes de Estado e de Governo, às Delegações
oficiais de tantos países do mundo e ao Corpo Diplomático.
Ouvimos ler, no
Evangelho, que «José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor e recebeu sua
esposa» (Mt 1, 24). Nestas palavras, encerra-se já a missão que
Deus confia a José: ser custos, guardião. Guardião de quem? De
Maria e de Jesus, mas é uma guarda que depois se alarga à Igreja, como
sublinhou o Beato João Paulo II: «São José, assim como cuidou com amor de Maria
e se dedicou com empenho jubiloso à educação de Jesus Cristo, assim também
guarda e protege o seu Corpo místico, a Igreja, da qual a Virgem Santíssima é
figura e modelo» (Exort. ap.Redemptoris Custos, 1).
Como realiza José
esta guarda? Com discrição, com humildade, no silêncio, mas com uma presença
constante e uma fidelidade total, mesmo quando não consegue entender. Desde o
casamento com Maria até ao episódio de Jesus, aos doze anos, no templo de
Jerusalém, acompanha com solicitude e amor cada momento. Permanece ao lado de
Maria, sua esposa, tanto nos momentos serenos como nos momentos difíceis da
vida, na ida a Belém para o recenseamento e nas horas ansiosas e felizes do
parto; no momento dramático da fuga para o Egito e na busca preocupada do
filho no templo; e depois na vida quotidiana da casa de Nazaré, na carpintaria
onde ensinou o ofício a Jesus.
Como vive José a
sua vocação de guardião de Maria, de Jesus, da Igreja? Numa constante atenção a
Deus, aberto aos seus sinais, disponível mais ao projeto d’Ele que ao seu. E
isto mesmo é o que Deus pede a David, como ouvimos na primeira Leitura: Deus
não deseja uma casa construída pelo homem, mas quer a fidelidade à sua Palavra,
ao seu desígnio; e é o próprio Deus que constrói a casa, mas de pedras vivas
marcadas pelo seu Espírito. E José é «guardião», porque sabe ouvir a Deus,
deixa-se guiar pela sua vontade e, por isso mesmo, se mostra ainda mais sensível
com as pessoas que lhe estão confiadas, sabe ler com realismo os
acontecimentos, está atento àquilo que o rodeia, e toma as decisões mais
sensatas. Nele, queridos amigos, vemos como se responde à vocação de Deus: com
disponibilidade e prontidão; mas vemos também qual é o centro da vocação
cristã: Cristo. Guardemos Cristo na nossa vida, para guardar os outros, para
guardar a criação!
Entretanto a vocação de guardião não diz respeito apenas a nós,
cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é simplesmente humana e diz
respeito a todos: é a de guardar a criação inteira, a beleza da criação, como
se diz no livro de Gênesis e nos mostrou São Francisco de Assis: é ter respeito
por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos. É guardar as pessoas,
cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma, especialmente das crianças, dos
idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do
nosso coração. É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se
reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo,
os próprios filhos tornam-se guardiões dos pais. É viver com sinceridade as
amizades, que são um mútuo guardar-se na intimidade, no respeito e no bem.
Fundamentalmente tudo está confiado à guarda do homem, e é uma responsabilidade
que nos diz respeito a todos. Sede guardiões dos dons de Deus!
E quando o homem
falha nesta responsabilidade, quando não cuidamos da criação e dos irmãos,
então encontra lugar a destruição e o coração fica ressequido. Infelizmente, em
cada época da história, existem «Herodes» que tramam desígnios de morte,
destroem e deturpam o rosto do homem e da mulher.
Queria pedir, por
favor, a quantos ocupam cargos de responsabilidade em âmbito econômico,
político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos
«guardiões» da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do
outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o
caminho deste nosso mundo! Mas, para «guardar», devemos também cuidar de nós
mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a vida; então
guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso coração, porque
é dele que saem as boas intenções e as más: aquelas que edificam e as que destroem.
Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura.
A propósito,
deixai-me acrescentar mais uma observação: cuidar, guardar requer bondade,
requer ser praticado com ternura. Nos Evangelhos, São José aparece como um
homem forte, corajoso, trabalhador, mas, no seu íntimo, sobressai uma grande
ternura, que não é a virtude dos fracos, antes pelo contrário denota fortaleza
de ânimo e capacidade de solicitude, de compaixão, de verdadeira abertura ao
outro, de amor. Não devemos ter medo da bondade, da ternura!
Hoje, juntamente
com a festa de São José, celebramos o início do ministério do novo Bispo de
Roma, Sucessor de Pedro, que inclui também um poder. É certo que Jesus Cristo
deu um poder a Pedro, mas de que poder se trata? À tríplice pergunta de Jesus a
Pedro sobre o amor, segue-se o tríplice convite: apascenta os meus cordeiros,
apascenta as minhas ovelhas. Não esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o
serviço, e que o próprio Papa, para exercer o poder, deve entrar sempre mais
naquele serviço que tem o seu vértice luminoso na Cruz; deve olhar para o
serviço humilde, concreto, rico de fé, de São José e, como ele, abrir os braços
para guardar todo o Povo de Deus e acolher, com afeto e ternura, a humanidade
inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos,
aqueles que Mateus descreve no Juízo final sobre a caridade: quem tem fome,
sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão (cf. Mt 25,
31-46). Apenas aqueles que servem com amor capaz de proteger.
Na segunda
Leitura, São Paulo fala de Abraão, que acreditou «com uma esperança, para além
do que se podia esperar» (Rm 4, 18). Com uma esperança, para além
do que se podia esperar! Também hoje, perante tantos pedaços de céu cinzento,
há necessidade de ver a luz da esperança e de darmos nós mesmos esperança.
Guardar a criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é
abrir o horizonte da esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas
nuvens, é levar o calor da esperança! E, para o crente, para nós cristãos, como
Abraão, como São José, a esperança que levamos tem o horizonte de Deus que nos
foi aberto em Cristo, está fundada sobre a rocha que é Deus.
Guardar Jesus com
Maria, guardar a criação inteira, guardar toda a pessoa, especialmente a mais
pobre, guardarmo-nos a nós mesmos: eis um serviço que o Bispo de Roma está
chamado a cumprir, mas para o qual todos nós estamos chamados, fazendo
resplandecer a estrela da esperança: Guardemos com amor aquilo que Deus nos
deu!
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