Por Jorge Henrique Mújica
Não é a primeira vez que o Twitter entra em cena nos momentos de culto. Na Páscoa de 2009, o pastor da igreja de Next Level fez uma campanha que previa o uso do Twitter para as pessoas compartilharem a sua experiência de Deus (veja um vídeo sobre a campanha em http://youtu.be/Kk8ucBlkMRo).
Esses dois exemplos vêm do âmbito protestante, onde a concepção da ceia do Senhor é diferente da missa no âmbito católico: para o católico, a missa é “o” momento de culto a Deus por excelência e exige a máxima das atenções. Na Eucaristia, por meio do sacerdote, Cristo atualiza o seu sacrifício na cruz.
Mas tem havido experiências parecidas de uso do Twitter durante a celebração eucarística em contextos especificamente católicos: por exemplo, em grandes encontros como a JMJ de Madri em 2011 e do Rio de Janeiro em 2013, quando, tanto na vigília quanto na missa de encerramento, as equipes de redes sociais enviaram atualizações para milhares de pessoas fisicamente distantes, para ajudá-las a experimentar e “viver” aqueles momentos.
É uma prática adequada? A argumentação a favor do uso das redes sociais durante atos litúrgicos, incluindo a missa, costuma apresentar motivos de comunhão: “Não é uma forma de aproximar da Igreja as pessoas que estão afastadas dela?”, pergunta-se.
Esse tipo de experimento parece ambíguo. Na tentativa de incluir os ausentes na experiência em andamento, esquece-se que a missa é “o” ato de culto a Deus, e não um espetáculo a ser compartilhado virtualmente. Além disso, a comunhão na Igreja é comunhão com Cristo, e o seu lugar e momento eminente são os sacramentos, de modo especial a Eucaristia, que precisam de uma presença física real, não virtual.
É verdade que as redes sociais podem facilitar a experiência psicológica, mas a missa não pode se reduzir a uma experiência desse tipo. Quem participa nela pode se privar de estímulos e sentimentos durante o desenvolvimento do ato litúrgico e nem por isso a missa perde o esplendor do seu significado; o sacramento, afinal, não depende de estados emocionais.
Se o aspecto psicológico fosse a base de uma experiência de comunhão, a eficácia de um tuíte ou de uma atualização de status no Facebook dependeria mais do momento emotivo das pessoas do que da graça sobrenatural, derivada, no caso específico da missa, do sacramento da Eucaristia, ou seja, da ação de Deus nas pessoas.
É significativo que as várias contas associadas à Santa Sé no Twitter não postem mensagens durante as missas do papa, mas somente depois delas, com finalidade informativa.
No caso de grandes eventos como a Jornada Mundial da Juventude, o Encontro Mundial das Famílias, os Congressos Eucarísticos Internacionais, etc., as pessoas que alimentam as redes sociais durante as missas já assistiram ou assistirão a outra missa no mesmo dia (afinal, as missas de domingo são sempre de preceito).
E resta uma questão: o uso das redes sociais equivale ao que acontece quando se transmite a missa pela televisão ou pelo rádio?
São duas situações diferentes.
A transmissão via TV ou rádio deve “deixar o sacramento falar”, sem outros intermediários. As missas não têm “narradores”: o protagonista é o sacramento. Ainda assim, deve ficar claro que acompanhar uma transmissão da missa não substitui a participação do crente na igreja. Pelo rádio ou pela TV não é possível receber a Eucaristia, que é o centro da missa, e é sabido que as transmissões se voltam principalmente às pessoas que não podem ir até a igreja por motivos de doença ou por impedimento grave. Nos casos normais, prevalece o preceito de assistir à missa todo domingo.
A propósito de todo este assunto, é muito valioso o documento “Transmissões das celebrações litúrgicas por rádio e televisão: diretrizes e recomendações”, do Secretariado de Meios de Comunicação Social da Conferência Episcopal Espanhola, em tradução de documento original alemão.
No libro Cyberteologia (p. 100-101), o pe. Antonio Spadaro vai até a essência do tema ao falar da relação entre as redes sociais e a liturgia: “O risco fundamental das experiências litúrgicas em rede é o de uma concepção ‘mágica’, capaz de diluir, até cancelar, o sentido da comunidade e da mediação eclesial ‘encarnada’, para, em vez disso, exaltar o papel da técnica que torna o evento possível”. O aqui e agora, o tempo e o espaço real, continuam sendo o critério de autenticidade e de orientação.
Não parece que tuitar durante a missa, portanto, seja aconselhável.
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