Ordenação diaconal na Catedral São Pedro de Alcântara Foto: Pastoral da Comunicação - Diocese de Petrópolis |
No seu livro Introdução ao Espírito da Liturgia, o Cardeal Joseph Ratzinger nos explica que Liturgia é “uma forma completamente diferente da antecipação, de exercício preliminar: prelúdio da vida futura, da vida eterna [...] ao contrário da vida presente, aquela que não será feita de necessidades e de obrigatoriedades, mas inteiramente de oferecer e dar” (p. 12). Ou seja, Ratzinger chama a atenção para uma grandeza que contemplamos com nossos olhos e que ainda não está plenamente realizada, mas nos enche de esperança, já que seria uma prévia da vida verdadeira que buscamos diariamente através da profunda intimidade com Deus.
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De forma resumida, concluímos que Liturgia é o culto prestado por nós, homens, a Deus em busca de sua presença e da vida eterna. Entretanto, a Liturgia não é instaurada na vinda de Cristo a Terra, pois ela existe desde a antiga aliança. Se olharmos o livro do Êxodo, Levítico, Números (cf. Ex 19, 3-6, Lv 8, 1-36; 9, 1-24, Nm 4, 1-33), veremos que o povo de Israel já possuía diversas ações litúrgicas de culto a Deus. Pois bem, o culto litúrgico foi elevado em Cristo na entrega de sua vida na Cruz e, sendo assim, tornou-se o litúrgo por excelência.
Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente na sua Igreja, especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, quer na pessoa do ministro – “o que se oferece agora pelo ministério sacerdotal é o mesmo que se ofereceu na Cruz” – quer e, sobretudo sob as espécies eucarísticas. Está presente com o seu dinamismo nos Sacramentos, de modo que, quando alguém batiza, é o próprio Cristo que batiza. Está presente na sua palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta, Ele que prometeu: “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles” (Mt. 18,20).
Por meio da Liturgia, Deus é perfeitamente glorificado
Em tão grande obra, que permite que Deus seja perfeitamente glorificado e que os homens se santifiquem, Cristo associa sempre a si a Igreja, sua esposa muito amada, a qual invoca o seu Senhor e por meio dele rende culto ao Eterno Pai.
Portanto, qualquer celebração litúrgica é, por ser obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja, ação sagrada por excelência, cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja.
Na Sagrada Liturgia, sacerdotes e fiéis têm que participar corretamente
Principalmente nos dias atuais, é comum verificar algumas pessoas dizendo que a Missa que o Padre Fulano faz é muito chata, pois não é animada. Sobre a participação dos fiéis, não só nas Missas, mas em todo ato litúrgico, a Igreja explica como deve se proceder. A Sacrosanctum Concilum diz que “para assegurar esta eficácia plena, é necessário, porém, que os fiéis celebrem a Liturgia com retidão de espírito, unam a sua mente às palavras que pronunciam, cooperem com a graça de Deus, não aconteça de a receberem em vão” (n. 11).
A participação correta dos fiéis não exime de responsabilidade os sacerdotes. Ao contrário, eles devem vigiar para que “não só se observem, na ação litúrgica, as leis que regulam a celebração válida e lícita, mas também que os fiéis participem nela consciente, ativa e frutuosamente” (SC, n. 11).
Apenas a Sagrada Liturgia nos basta?
Convém saber que a Liturgia não esgota toda a ação da Igreja. Os homens, antes de poderem participar na Liturgia, precisam, fundamentalmente, ouvir o apelo à fé e à conversão, pois não é possível a participação plena daqueles ainda não creem. São Paulo questiona: “Como invocarão aquele em quem não têm fé? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão falar, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?” (Rom. 10, 14-15). A partir dessa ótica, é possível perceber um dos motivos pelo qual a Igreja anuncia, constantemente, a mensagem da salvação àqueles que ainda não tem fé: “para que todos os homens venham a conhecer o único Deus verdadeiro e o Seu enviado, Jesus Cristo, e se convertam dos seus caminhos pela penitência” (SC, n. 9).
Dado interessante é que de nada adianta participar de atos litúrgicos diversas vezes e rezar em frequência inferior, pois a Sagrada Liturgia, como ressaltado acima, não esgota toda a vida espiritual. O cristão é chamado a rezar em comum, também deve entrar no seu quarto para rezar a sós ao Pai, como ensina o Apóstolo: deve rezar sem cessar. E o mesmo Apóstolo nos ensina a trazer sempre no nosso corpo os sofrimentos da morte de Jesus, para que a sua vida se revele na nossa carne mortal. É essa a razão por que no Sacrifício da Missa pedimos ao Senhor que, tendo aceitado a oblação da vítima espiritual, faça de nós uma oferta eterna a si consagrada.
A Igreja, por meio da Sacrosanctum Concilium, fala ainda dos atos de piedade. “São muito de recomendar os exercícios piedosos do povo cristão, desde que estejam em conformidade com as leis e as normas da Igreja, e especialmente quando se fazem por mandato da Sé Apostólica” (SC, n. 13). Importa, porém, ordenar essas práticas tendo em conta os tempos litúrgicos, de modo que se harmonizem com a Sagrada Liturgia, de certo modo derivem dela, e a ela, que por sua natureza é muito superior, conduzam o povo.
Referências:
IGREJA CATÓLICA. PAPA (1963 – 1978: Paulo VI) Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium: sobre a Sagrada Liturgia. Roma: Libreria Editrice Vaticana, 1964. Disponível em <http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html>. Acesso: 22 abr. 2016.
RATZINGER, Joseph. Introdução ao Espírito da Liturgia. Loyola Edições, 2014.
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